A saúde é uma questão de grande complexidade, relacionada a fatores biológicos, psicológicos, sociais, ambientais e da subjetividade humana. As condições de vida e a forma como os sujeitos agem diante dela potencializam ou dificultam a capacidade dos indivíduos e grupos de viverem saudáveis. Sendo assim, saúde transcende os limites setoriais, depende de políticas econômicas e sociais, e envolve relações comportamentais e ações institucionais e individuais.
Intervir sobre algo de tamanha complexidade implica ter como princípios a ética do bem comum, o trabalho em parceria intersetorial, a aplicação dos saberes de diversas origens e a participação social, operacionalizados através de políticas oriundas de ampla pactuação com os diversos atores relacionados, tendo como norte as necessidades de saúde, no nosso caso, da população do DF.
Então, pensar os desafios para a saúde é pensá-la como uma política de inclusão social, é olhar o Sistema de Saúde e não apenas os serviços de saúde. Significa colocar a agenda da saúde na agenda de desenvolvimento do país, como disse o ministro Alexandre Padilha no seu discurso de posse, e enfrentar os problemas da desigualdade social, que transformaram o Distrito Federal e seu entorno na região mais desigual do país, como afirmou o governador Agnelo Queiroz na sua posse.
Para melhorar a atenção à saúde, é necessário um novo modelo, estruturado a partir da Atenção Primária de Saúde (APS), integrado em rede intra e intersetorial. Para isso, é preciso equipes multiprofissionais capacitadas e atuando de forma a resolver os principais problemas de saúde da população sob sua responsabilidade, trabalhando em parceria, reforçando ações de promoção e prevenção, evitando internações e óbitos por causas evitáveis.
O DF precisa ir muito além dos cerca de 10% de cobertura da Estratégia de Saúde da Família. Ao mesmo tempo, as equipes da APS precisam da retaguarda dos serviços de média e alta complexidade, de modo a garantir a integralidade do cuidado dos indivíduos e dos grupos sociais. Mas mudanças na atenção exigem reestruturação da gestão e fortalecimento do controle social.
Uma nova gestão na saúde do DF significa o rompimento com o paradigma biologicista/hospitalocêntrico e com a fragmentação de comando na Secretaria de Saúde, que possibilite agilidade na tomada de decisões e integração das ações, de forma a torná-las mais eficientes e eficazes. Significa também contemplar as diferentes necessidades de saúde, de cada Região do DF, no planejamento e programação da oferta e distribuição de serviços, com a participação dos trabalhadores da saúde e dos usuários dos serviços. Penso ser necessário reestruturar a área de regulação, avaliação e controle, de forma a ampliar o acesso da população aos serviços e melhorar a resolubilidade da atenção.
Além disso, o novo Gestor da SES/DF deve participar ativamente do Colegiado da Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno – RIDE, buscando pactuações solidárias no sentido de promover a melhoria da Rede de Atenção à Saúde dessa região. A RIDE congrega, além do DF, dezenove municípios de Goiás e três de Minas Gerais, que utilizam serviços de saúde do DF.
Também considero prioritário dotar de estrutura os Conselhos de Saúde, informatizar com acesso à internet o conjunto das Unidades de Saúde, construir uma política de Gestão do Trabalho e da Educação Permanente para o DF e rever a parceria público-privada, dando prioridade ao setor público.
Por fim, gostaria de destacar que o GDF não é só crise, mas é também portador de boas iniciativas e do empenho de muitos profissionais que, no anonimato, se ocupam da saúde de nossa população. Está aí um grande desafio e uma boa perspectiva, combinar investimentos em estrutura e no potencial de trabalho dos trabalhadores de saúde, que no cotidiano operacionalizam as políticas de saúde.
Magda Duarte dos Anjos Scherer
Fonte: Site da UnB - 12/01/2011.
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