terça-feira, 10 de julho de 2012

DF inaugura primeiro Centro de Referência para morador de rua

A meta estabelecida pelo governo federal de tirar 16 milhões de brasileiros da miséria passa pelo atendimento da chamada população em situação de rua – cerca de 300 mil pessoas, segundo dados do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome).
Uma das barreiras para que essa população tenha acesso a políticas públicas e a benefícios como o Bolsa Família é a falta de referências domiciliares. Em geral, como acontecia com o CadÚnico (Cadastro Único), o registro de beneficiários exige a anotação de endereço residencial. Para contornar isso, o governo federal criou novas formas de atendimento, como os consultórios médicos de rua, mudou o CadÚnico, que agora aceita a indicação de endereço de abrigo, igreja ou restaurante popular, e está criando mais centros de referência especializados para a população em situação de rua, os chamados centros POP.

Atualmente, 253 centros POP estão em funcionamento no país – 163 deles criados após o lançamento do Programa Brasil sem Miséria, no ano passado. Nesta sexta-feira, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, participou da inauguração do primeiro centro POP no DF (Distrito Federal). “Era uma reivindicação da população em situação de rua”, disse a ministra, ao explicar que o atendimento é diferente do que é prestado nos centros de referência de assistência social (Cras) e nos centros de referência especializados de assistência social (Creas). Para o governador do DF, Agnelo Queiroz, a criação do centro é estratégica para a aproximação com a população de rua. “Aqui é o acolhimento. É a partir daqui que a gente estabelece o contato”, disse Agnelo à "Agência Brasil".


Atendimento diurno

O primeiro POP da capital federal fica na Asa Sul e vai atender a moradores de rua que estão no Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, Sudoeste e Cruzeiro, áreas nobres da cidade que concentram mais de 31% da população de rua, segundo pesquisa da Universidade de Brasília (UnB).
Até o fim do ano, o governo do Distrito Federal promete entregar mais dois centros: um na Região Administrativa de Taguatinga e outro na de Ceilândia.A unidade funcionará apenas durante o dia, em horário comercial, mas, à noite, um ônibus estará à disposição das pessoas para levá-las a abrigos. O centro inaugurado hoje em Brasília fica na 903 Sul, a uma quadra do local onde, há 15 anos, foi queimado o índio Galdino. O crime comoveu a cidade e repercutiu em todo o mundo, mas moradores de rua continuam sendo assassinados em Brasília e nas regiões administrativas do DF.

O antropólogo Felipe Areda, da Diretoria de Serviços Especializados à Família e Indivíduos do Governo do Distrito Federal, enumera e nomeia sete moradores de rua assassinados violentamente este ano por “razões múltiplas”:
Paulo César e José Edson, queimados em Santa Maria; José Neves Lima, que teve a cabeça esmagada na Hípica, área próxima ao Plano Piloto; Ulisses Cruz Onório, espancado até a morte e jogado em um contêiner de lixo; Adriano Oliveira e Valdo Serra, executados a tiros na região do Areal); e Fábio Costa, assassinado na Asa Sul; além de um desconhecido cujo corpo foi encontrado em um carrinho de mão à margem da BR-060.

Fonte: Gilberto CostaDa Agência Brasil, em Brasília


Centro POP do DF concretiza luta da população em situação de rua

Vai funcionar de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, com capacidade para atender cerca de 150 pessoas por dia. Ao todo, são cerca de 30 funcionários, entre educadores, agentes sociais, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Eles oferecerão atendimento ambulatorial e estrutura para atividades educativas voltadas ao fortalecimento comunitário e social.

O local também propicia à população de rua alimentação diária, com café da manhã, almoço e lanche da tarde. Além disso, os usuários podem tomar banho e cuidar da higiene pessoal e têm espaço para armazenar seus pertences.

A coordenadora do Centro POP de Brasília, Meire Lia Lima, explica que, apesar do ser um local comunitário, o atendimento é individualizado, reforçando a importância do cidadão. “Temos um trabalho focado no plano individual de acompanhamento, de acordo com a realidade de cada atendido. Cada um é um sujeito de direito e conhecimento, por isso merece um local digno.”

Instituídos em 2009, os Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua são unidades públicas de referência e atendimento especializado à população adulta nessa condição, por intermédio do Suas. Em todo o país, já existem 91 unidades desse tipo, em 21 unidades da federação. Até 2014, a previsão é que sejam construídos outros cinco Centros POP em diferentes localidades do Distrito Federal. 



Superação – Aos 52 anos, Jorge de Oliveira é um exemplo de superação conquistada com apoio dos equipamentos da assistência social. Nascido no Rio de Janeiro, envolveu-se precocemente com as drogas, motivo pelo qual foi afastado pela família. “Aos 9 anos já era viciado em cola de sapateiro e maconha. Antes dos 14 já bebia e usava cocaína. Fui parar em beira de estrada, onde pedia esmolas. De carona em carona, cheguei a Brasília”, lembra. 

Até o fim de 2011, o senhor de aparência frágil andava nas ruas de Planaltina pedindo dinheiro para comprar crack e álcool, até que foi encontrado por uma assistente social. 

“Com ela minha vida mudou. Fui para o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), onde aprendi a fazer artesanato, consegui uma vaga num abrigo e fiz minha inscrição no Bolsa Família. Com a ajuda da assistência social, me livrei do álcool e das drogas e estou terminando de construir uma casa para mim. Agora quero ajudar os colegas que ainda moram na rua. Lugares como esse são essenciais para que essa população tenha onde comer, tomar banho, guardar seus pertences e obter uma orientação sobre seus direitos.” 

Animado com a inauguração do Centro POP, Jorge conclui: “Só não estou sorrindo mais porque ainda me faltam os dentes. Todo mês guardo uns trocadinhos do Bolsa Família e em breve vocês vão me ver gargalhando por aqui.”

Fonte: Fernanda Lattarulo Ascom/MDS (61) 3433-1021 www.mds.gov.br/saladeimprensa

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