quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Autoritarismo e desumanização não resolvem o problema das drogas

O seminário “Álcool e Outras Drogas: Um desafio para as (os) Profissionais de Saúde”, foi realizado pelo Fórum de Conselhos Federais de Profissionais da Área da Saúde (FCFAS), conhecido como Conselhinho, no dia 19 de novembro, na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em Brasília (DF).

O evento, cujo tema se insere no debate da questão da saúde mental, visando à construção de estratégias e possibilidades de enfrentamento e reinserção social do/a usuário/a de droga no Brasil, na perspectiva da garantia dos direitos humanos, contou também com uma palestra da assistente social e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Cristina Brites. 

Álcool e Drogas: ampliando o debate 
A professora Cristina Brites fez a conferência “Álcool e Drogas: ampliando o debate” e incluiu em suas contribuições o que chamou de “debate crítico” no interior da política de drogas. “Precisamos observar que o uso de drogas é diverso; precisamos reconhecer que, por ser uma política social, a política de drogas não pode ser desmembrada de um conceito mais amplo de sociedade, haja vista existirem diferentes tipos de drogas e modalidades de consumo”, alertou a assistente social.

Brites também chamou atenção para o atual estágio de investimentos em políticas sociais no Brasil. “Verificamos uma drástica redução dos recursos disponibilizados, em um contexto de neoliberalismo. Isso implica ainda um recorte de classe sobre o uso de drogas no Brasil: na maioria das vezes, o problema é relacionado à pessoa pobre, negra, que, quando reprimida policialmente pelo Estado, tem sua autonomia e cidadania afetadas, o que, por fim, acentua a tendência de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais”, apontou a professora.

Cristina Brites concluiu a palestra, explicitando um grave problema que caracteriza a questão das drogas hoje no país. “A repressão aos/às usuários é também uma política pública, que disputa fundos com a Saúde e que, ao ser mais bem aceita pela população, termina recebendo mais recursos, o que, por sua vez, reforça a ação higienista do Estado com esses/as usuários”, concluiu.

No debate, o representante da Coordenação Nacional do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) e da Frente Nacional sobre Drogas e Direitos Humanos (FNDDH), Samuel Rodrigues, criticou a política instituída pelo governo federal com o Plano Crack. “Essa ação significa uma política para pobres. As ações repressoras que vêm sendo postas em prática pelo governo são apenas um processo para maquiar a construção dos megaeventos, para mostrar ao mundo uma situação irreal, que oprime as populações fragilizadas, principalmente nos grandes centros urbanos”, finalizou.

Com um total de 3.011 acessos na transmissão via internet, o seminário teve ainda as participações de Luana Malheiros, do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Substâncias Psicoativas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e de Domiciano Siqueira, da Associação Brasileira de Redução de Danos; trazendo a reflexão na perspectiva do acolhimento e do cuidado de forma integral e de forma interdisciplinar, com o foco nas pessoas usuárias e não nas drogas.

A experiência do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS III), de São Bernardo do Campo (SP), apresentada pela psicóloga Lumena Furtado, alertou para a necessidade fundamental de estruturar uma rede de atendimento, envolvendo todas as áreas como: saúde, educação, segurança pública, habitação, cultura, e que seja capaz de incluir as pessoas usuárias de drogas nos serviços que a cidade oferece, em vez de estruturar serviços diferenciados; num processo de construção permanente e interdisciplinar.

Leia o CFESS Manifesta do Dia Internacional de Combate às Drogas

Fonte: CFESS

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